Algumas pessoas que visitam o Blog podem ter curiosidade para saber o significado de alguns conceitos, por isso resolvi elaborar um pequeno glossário. Cabe alertar: a tentativa de definição desses termos pode enclausurá-los. Os significados desses conceitos geralmente são acompanhados de uma longa discussão teórica prévia. De qualquer forma, é importante lembrar que os conceitos são históricos e discursivamente produzidos. Os significados atribuídos aos conceitos estão em constante fluxo, passando por re-significações, re-construções e re-leituras. Nesse sentido, as definições abaixo são meras tentativas de explicação da complexidade e provisoriedade de cada um deles.
Diversidade - pode ser entendida como "a construção histórica, cultural e social (inclusive econômica) das diferenças. Ela é construída no processo histórico-cultural, na adaptação do homem e da mulher ao meio social e no contexto das relações de poder. Os aspectos tipicamente observáveis, que se aprende a ver como diferentes, só passam a ser percebidos dessa forma, porque os sujeitos históricos, na totalidade das relações sociais, no contexto da cultura e do trabalho, assim o nomearam e identificaram [...]”. (Documento da Conferência Nacional da Ed. Básica, no eixo de Inclusão e Diversidade). A diversidade, segundo Tomaz Tadeu da Silva (2000), é uma concepção estática que se limita a reconhecer a diferença, social ou natural. Para esse autor, precisamos adotar uma perspectiva que ao invés de celebrar e contemplar as "diferenças" deva questioná-las e problematizá-las, explicando como elas são produzidas histórica e socialmente e estão envolvidas com relações de poder, discursivas e simbólicas, que buscam hierarquizar e dividir o mundo social. Como forma de superar o paradigma da diversidade, Silva (2000) explica como seria pensar de uma forma "múltipla":
“Tal como ocorre na aritmética, o múltiplo é sempre um processo, uma operação, uma ação. A diversidade é estática, é um estado, é estéril. A multiplicidade é ativa, é um fluxo, é produtiva. A multiplicidade é uma máquina de produzir diferenças – diferenças que são irredutíveis à identidade. A diversidade limita-se ao existente. A multiplicidade estende e multiplica, prolifera, dissemina. A diversidade é um dado – da natureza ou da cultura. A multiplicidade é um movimento. A diversidade reafirma o idêntico. A multiplicidade estimula a diferença que se recusa a se fundir com o idêntico” (SILVA, 2000, p. 100-101).
Homoafetividade - Conceito utilizado bastante da área jurídica ao se referir a adoção por casais homossexuais ou casamento entre homossexuais. Segundo ANIS (2007, p. 42), o termo homoafetividade serve “[...] para viabilizar e romper com o paradigma de que a homossexualidade está necessariamente restrita ao ato sexual. Que sim, a homossexualidade envolve relações afetivas e/ou sexuais entre pessoas do mesmo sexo”. Nesse sentido, além de ampliar a visão da homossexualidade para além do coito sexual reafirma a dimensão de todas as relações afetivas e/ou sexuais entre pessoas do mesmo sexo (grifos meus), ou seja, podendo englobar as relações de parentesco entre pessoas do mesmo sexo e as diversas relações interpessoais com pessoas do mesmo sexo não-parentais. O termo é criticado por parte dos/as ativistas LGBT por não implicar em identidades e demandas específicas. No entanto, na visão de Lopez (2000 apud BRASIL, 2006, p. 13),
[...] os termos homossexualidade e homoerotismo, não conseguem contextualizar ou explicar a complexidade e a multiplicidade de relações entre pessoas do mesmo sexo. Segundo o autor, devemos pensar estas relações não somente como uma identidade, como expresso pelo termo homossexual, ou como um comportamento sexual, como expresso pelo termo homoerotismo, mas sim como um contexto construído através de inúmeras relações históricas, sociais e culturais, que só pode ser abarcado pelo termo homoafetividade.
O termo, portanto, quer enfatizar o conjunto de valores, crenças, práticas, representações e sentimentos que foram (e ainda são) construídos e partilhados social, cultural e historicamente sobre a aproximação afetiva e sexual entre pessoas do mesmo sexo/gênero.
Orientação sexual - O termo é usado em diferentes sentidos. Na área da educação, alguns autores usam o conceito orientação sexual para designar o processo de intervenção intencional na área de sexualidade, diferenciando do conceito de educação sexual, que seria o processo informal pelo qual aprendemos sobre sexualidade. O termo também é usado para caracterizar o direcionamento dos desejos afetivos e sexuais, que podem variar entre homossexualidade, bissexualidade e heterossexualidade. A orientação sexual tem sido apontada pelos movimentos sociais LGBT como o termo mais apropriado para se referir ao desejo afetivo e sexual que as pessoas sentem por pessoas do mesmo sexo, ambos os sexos ou do sexo oposto. Porém, também há críticas ao conceito, pois, por um lado, não implica necessariamente em identidades específicas, mas quando se refere a essas identidades tende a "essencializá-las" considerá-las "transcedentais" e "naturais", como se estivem fora da sociedade e da história.
REFERÊNCIAS
ANIS. Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero. Legislação e jurisprudência LGBTTT: Lésbicas – Gays – Bissexuais – Travestis – Transexuais – Transgêneros. Brasília: Letras Livres, 2007.
LOPES, Denilson. Experiência gay na universidade. In: SOUSA JR, José Geraldo et al. (Orgs.). Educando para os direitos humanos: pautas pedagógicas para a cidadania na universidade. Brasília: Editora Síntese, 2003.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.